terça-feira, 26 de abril de 2016

Diadorim

Personagem: Diadorim



História: Personagem criado por Guimarães Rosa em 1956 para o livro Grande Sertão: Veredas. Seu nome de batismo é Maria Deodorina da Fé Bettancourt Marins, entretanto, ao longo da narrativa a personagem assume o nome de Reinaldo, ora escolhido para ter lugar entre os jagunços do sertão das Minas Gerais. Diadorim, é, portanto, uma mulher, que disfarçada de homem entra para um grupo de jagunços. Pois somente se colocando como homem será aceita entre aqueles. Mas para fazer parte do bando, que se empreende em uma caçada a outros sujeitos, usa o pretexto da vingança. Não sossegaria enquanto não derramasse o sangue daqueles que fizeram o mesmo com seu pai - o também personagem da narrativa Joca Ramiro.
A personagem passa assim o tempo e o espaço de sua vida tendo que exteriorizar o gênero masculino. Não pode ser descoberta de forma alguma e para tanto precisa aguentar as privações e a dureza que a vida de cangaceiro sujeita aqueles que a ela se entregam.
Acontece que Riobaldo, outro personagem importante, se apaixona por Diadorim, o que gera então uma questão conflituosa dentro da trama, na medida em que, tal condição social - pertencimento a um grupo de jagunços - jamais permitiria o amor homossexual.
No fim, a morte de Diadorim revela o corpo de uma mulher. O que faz Riobaldo se dar conta de todo aquele sentimento ocultado e proibido.

Características: Curiosa, sentimental, ciumenta, forte e determinada.

Sugestão de tema filosófico: Foucault e a História da sexualidade; Wittgenstein e os jogos de linguagem.

Provocações: 
Ao se travestir de homem Diadorim denuncia uma violência de gênero?
Através da maneira como Guimarães Rosa narra a vida de Diadorim ele salienta um preconceito ainda existente na sociedade moderna?
A linguagem usada por Diadorim é produto do sertão? E a sua linguagem é produto de onde?

Sugestão de material:
FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade I: A Vontade de saber. Rio de Janeiro. Ed. Graal, 1988.
WITTGENSTEIN, L. Investigações Filosóficas. Trad. Marcos G. Montagnoli. Petrópolis. Ed. Vozes, 6ª edição, 2009.
STRATHERN, Paul. Wittgenstein em 90 minutos. Rio de Janeiro. Jorge Zahar Ed. 1997.

Audiovisual:


Grande Sertão: Veredas. Direção: Geraldo e Renato dos Santos Pereira. 1965.

Grande Sertão: Veredas. Direção: Walter Avancini. 1985 (Série para televisão)






Blog e sites:

https://www.youtube.com/watch?v=72HwLlU_uJY

https://www.youtube.com/watch?v=ysqtc8VUtIc

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Macabéa

Personagem: Macabéa


História: Personagem criada por Clarice Lispector em 1977 a partir do romance A Hora da Estrela. Macabéa é uma jovem alagoana que migra para o Rio de Janeiro onde trabalha como datilógrafa. Nesta cidade se depara com novos valores, entretanto demonstra-se indiferente a eles e às emoções que lhes proporcionam. Leva uma vida em razão do salário que regalia alguma lhe garante além de uma ida mensal ao cinema e a rotina de trabalho. Ainda assim começa um namoro com Olímpio de Jesus, mas para seu desespero ele a abandona para se relacionar com Glória, uma colega de trabalho de Macabéa.
A personagem chega a adoecer tamanha sua má condição de vida. Sente fome, desilusão e tristeza. Em vista do que Glória lhe aconselha a procurar uma cartomante. Macabéa aceita a sugestão da amiga e sai em busca de saber de seu destino. E as notícias que recebe são maravilhosas! Terá um grande futuro assim que sair da consulta, diz a cartomante, nele encontrará com um estrangeiro e será, enfim, feliz; algo que tanto havia faltado na vida resignada dentro da qual constantemente dizia: "já que sou, o jeito é ser."
A cartomante acerta. Macabéa sai e é atropelada por uma Mercedes amarela dirigida por um homem louro. Morre desse jeito a moça cuja única paixão era goiabada com queijo.

Características: Obediente, doce, solitária e ignorante.

Sugestão de tema filosófico: Foucault e o biopoder; Marx e a alienação.


Provocações:

O poder que organiza a sociedade moderna não mata Macabéa, mas a deixa morrer, aos poucos. Reflita sobre essa afirmação.
A ignorância de Macabéa é uma alienação frente a sociedade carioca que lhe apresenta novos valores?
Através da personagem Macabéa quais mecanismos, ainda que sutis, são observados como mantenedores do funcionamento da sociedade em que ela mesma vive?

Sugestão de material:


FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. Rio de Janeiro. Ed. Paz e Terra, 2014.
_______________. Vigiar e Punir. Rio de Janeiro. Ed. Vozes, 2004.
KARL, Marx. O Capital: Crítica da Economia Política. Livro 1: O processo de Produção do Capital. Ed. Boitempo, 2014.
__________. O Capital: Crítica da Economia Política. Livro 2: O Processo de Circulação do Capital. Ed. Boitempo, 2014.


Audiovisual:



A hora da estrela. Direção: Suzana Amaral, 1985.




Blogs e sites:

https://www.youtube.com/watch?v=376JgN-2cEc

http://pt.slideshare.net/gottardos/o-capital-em-quadrinhos-karl-marx

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Sargento Getúlio

Personagem: Sargento Getúlio


História: Personagem criado por João Ubaldo Ribeiro e lançado pela primeira vez em 1971. O livro, cujo título é também o nome do personagem, apresenta o sargento da polícia militar de Sergipe, o Sargento Getúlio, como um sujeito sempre disposto a cumprir o dever. A lei ganha, mediante as atitudes do personagem, um aspecto objetivo. De modo que a obediência às ordens não é sequer questionada, mesmo que para tanto se deva suprimir vontades pessoais.
Envolvido por tal conduta, Getúlio é encarregado, antes de se aposentar, como sua última missão, de levar um prisioneiro até Aracaju. Entretanto, em razão de reviravoltas políticas que acontecem no país, ele recebe a informação de que a missão deve ser abortada. Instante da narrativa em que a confusão se faz completa no universo psicológico do personagem. Afinal, ele se julga e se porta, como sujeito de palavra, homem correto, cumpridor de suas tarefas. Segundo a ordem o preso deve ser libertado e Getúlio deve se afastar.
Mas a confusão cresce na cabeça do Sargento Getúlio que crê no dever de obedecer, no entanto não sabe mais a quem ou a quê. Neste processo de indecisão usa sua força para sobreviver. E, pela primeira vez na vida, se insurge contra uma ordem que lhe fora dada insistindo em levar o prisioneiro ao seu destino. Pela primeira vez na vida o Sargento age de acordo com a sua vontade, se portando contrário a ordem que lhe fora dada.

Características: 

Obediente; fiel; determinado e feroz.

Sugestão de tema filosófico:


Utilitarismo de Jeremy Benthan e John Stuart Mill; David Hume e a relação entre paixões e razão.

Provocações:
O Sargento Getúlio, ao longo da narrativa, leva em consideração o efeito que suas ações produzem?
Ao desobedecer a ordem de abortar a missão o personagem segue suas paixões em detrimento de sua razão?
O Sargento Getúlio é um moralista, mesmo desobedecendo ordens e deveres vindos de seus superiores?


Sugestão de material:

MILL, John Stuart. O Utilitarismo. São Paulo. Ed. Iluminuras, 2000.

BENTHAN, Jeremy. Os Pensadores. São Paulo. Ed. Abril Cultural, 1979.

HUME, David. Tratado da Natureza Humana: uma Tentativa de Introduzir o método experimental de Raciocínio nos Assuntos Morais. São Paulo. Ed. UNESP, 2001.

Audiovisual:




Sargento Getúlio. Direção: Hermanno Penna, 1983.







Blogs e sites:

http://www.papodecinema.com.br/filmes/sargento-getulio

https://www.youtube.com/watch?v=z5YjBYxHHjY

quarta-feira, 20 de abril de 2016

Quincas berro d'água

Personagem: Quincas berro d'água


História: Personagem criado por Jorge Amado para o livro A morte e a morte de Quincas berro d'água de 1961. Quincas é o apelido do funcionário público Joaquim Soares da Cunha, cuja postura respeitosa é reconhecida tanto como pai quanto marido.
Quincas é um personagem que morre duas vezes. A primeira moralmente quando deixa de se apresentar como cidadão honroso e se entrega a vadiagem, a bebedeiras descontroladas, em razão do que, deixa de ser um exemplo para a sociedade e passa a ser conhecido como Quincas berro d'água.
A segunda morte aparece na narrativa quando uma amiga encontra o corpo de Quincas em um cômodo sujo, vestindo farrapos. Morte essa que para a família chega como um grande alívio, já que a vergonha moral vinha lhes abatendo duramente. Tementes diante do remorso, os parentes oferecem digno velório a Quincas. Entretanto, durante o funeral, seus amigos de farra veem no rosto do defunto um riso. De modo que julgando-o ainda vivo levam-no para uma última noite de festa.
Está armada uma grande confusão, salpicada de elementos tais como: a preocupação da família com as aparências sociais, o que demonstra a força da moral em contrapartida ao ímpeto da boemia que mesmo na morte procura e encontra um sorriso para ser motivo a uma nova algazarra.

Características: Antes: cidadão honroso e respeitável; depois: boêmio e despreocupado com julgamentos morais.

Sugestão de tema filosófico: Freud e o mal-estar na civilização; Ética em Aristóteles.

Provocações:

Se a vida boêmia de Quincas representar a satisfação dos instintos deve ser entendida como mais feliz?
Era por sacrificar seus instintos que Quincas representava a figura do cidadão honroso?
Quais relações se pode estabelecer entre a concepção ética de Aristóteles (dominar impulsos rumo ao bem) e as duas atitudes morais de Quincas? 

Sugestão de material: 

FREUD, Sigmund. O Mal-Estar na Civilização. São Paulo. Ed. Penguin e Cia. das Letras. 2011.
ARISTÓTELES. Aristóteles. Coleção Os Pensadores. São Paulo. Ed. Abril Victor Civita. 1983.

Audiovisual:


Quinas berro d'água. Direção: Sérgio Machado, 2010. 




Blogs e sites:

https://www.youtube.com/watch?v=XZlVHbNP61Y

http://www.jorgeamado.com.br/obra.php3?codigo=12575

O Lobo e o Cordeiro

Personagens: O Lobo e o Cordeiro

História: Esopo, La Fontaine e Monteiro Lobato esforçaram-se para espalhar a fábula cujos personagens polarizam com clara distinção o bem e o mal. Na narrativa está o manso e indefeso Cordeiro a beber da doce água do córrego quando aparece o Lobo. Sua postura altiva, suas garras a mostra, sua fome nos olhos, fazem tremer o cordeiro. Animal que nada pode fazer além de pôr o rabo entre as pernas, abaixar as orelhas e curvar-se desculposamente diante da força que a natureza havia dado ao Lobo.
E o Cordeiro tenta explicar-se, tenta argumentar de que não está sujando a água do Lobo e que diante da sede não encontrara alternativa, senão o regato. O Lobo, mesmo se enrolando frente aos argumentos do outro, acaba por devorá-lo. Afinal, se o Cordeiro tem sede, ele tem fome.
Fica, ao fim da fábula, uma moral que estabelece o Lobo como mau e o Cordeiro como bom. Unicamente porque o primeiro devora o segundo que é indefeso.

Características: Lobo, mau. Cordeiro, bom.

Sugestão de tema filosófico: Nietzsche e a moral do senhor e do escravo; Sartre e o existencialismo.

Provocações: 
Julgar o Lobo como mau e o Cordeiro como bom é uma avaliação moral?
A partir de outro(s) sistema de valor moral essa concepção de bom e mau ganha novos valores?
Qual relação se pode estabelecer entre o modo de julgar a existência e a essência de cada um dos personagens?

Sugestão de material:

LOBATO, Monteiro. Fábulas. São Paulo. Ed. Brasiliense, 1975.

ESOPO. Fábulas Completas.São Paulo. Ed. Moderna, 2004.

FONTAINE, Jean de La. Fábulas de La Fontaine. Rio de Janeiro. Ed. Itatiaia, 1989.




Audiovisual:

https://www.youtube.com/watch?v=8rB-7ck6ktc

https://filmow.com/o-lobo-e-o-cordeiro-a-raposa-e-as-uvas-a-raposa-e-o-corvo-t30603/




Blogs e sites:

http://saladeleituramobile.blogspot.com.br/2013/06/o-lobo-e-o-cordeiro-esopo-um-lobo-ao.html

terça-feira, 19 de abril de 2016

Super-Homem

Personagem: Super-Homem


História: Personagem criado por Joe Shuster e Jerry Siegel em 1938, nos E.U.A. Nascido no planeta Crypton e enviado a Terra dentro de uma nave protetora antes que sua terra natal fosse completamente destruída.
Foi descoberto por um casal de fazendeiros, Jonathan e Martha Kent, que lhe adotaram e deram o nome de Clark Kent.
Desde pequeno o menino apresenta habilidades extraordinárias. Ainda assim, cresce e as camufla debaixo do desajeitado e distraído Clark Kent, repórter do Planeta Diário, que é como se apresenta para a sociedade. Ficando, desta forma, sua identidade de Super-Homem, bem preservada. No jornal trabalha com Jimmy Olsen e Lois Lane, de quem se apaixona ao longo das tramas.
Desde os anos de 1940, as ações do personagem seguem um rigoroso código de conduta que aponta para o respeito às leis e um comportamento correto, infalível e incorruptível mesmo diante dos assim julgados malfeitores. Há discussões que, inclusive, associam a conduta moral do personagem ao estilo de vida do meio-oeste estadunidense, onde ele passara a infância.

Características: Justo, racional, sincero e solidário.

Sugestão de tema filosófico: Nietzsche e a transvaloração de todos os valores; Kant e o Imperativo Categórico ou Lei Prática.

Provocações:
O Super-Homem é um personagem moral? 
O Super-Homem poderia ser um personagem imoral se avaliado a partir de morais diversas?
O Super-Homem age segundo um princípio universal, uma lei moral objetiva, um imperativo categórico?

Sugestão de material:


ONNFREY, Michel. Nietzsche em HQ. São Paulo. Ed. Nova Fronteira, 2014.

GIACOIA, Oswaldo. Nietzsche. São Paulo. Ed. Publifolha, 2009.

________. Nietzsche X Kant: uma disputa permanente a respeito de liberdade, autonomia e dever. Rio de janeiro. Ed. Casa da Palavra, 2012.

Audiovisual: 

Superman, o filme. Direção: Richard Donner, 1978.
Superman II, A aventura continua. Direção: Richard Lester, 1980.
Superman III. Direção: Richard Lester, 1983.
Superman IV, Em busca da Paz. Direção: Sidney J. Furier, 1987.
Batman VS Superman: A origem da Justiça. Direção: Zack Snyder, 2016. 

Blogs e sites:

https://www.youtube.com/watch?v=_PZZ-jlxpmk



segunda-feira, 18 de abril de 2016

O Alienista

Personagem: O Alienista


A História: Personagem criado por Machado de Assis (1839 - 1908) Simão Bacamarte é o médico alienista que dá nome ao conto lançado em 1882, no livro Papéis Avulsos
O Dr. Bacamarte é um respeitado médico brasileiro que mesmo famoso na Europa, decide voltar para as terras tupiniquins. Mais precisamente para Itaguaí, onde se casa com D. Evarista esperançoso por herdeiros, mas sem nenhum sucesso quanto a tarefa corpórea.
Dedica-se então integralmente a psiquiatria. Ergue a Casa Verde, seu hospício, e num girar de chave, cortar de fita, enche a Casa de pacientes. Pois é capaz de provar que a loucura se encontra em qualquer esquina. Torna-se assim um obcecado pela ideia de localizar, internar, estudar e curar os loucos.
Entretanto chega ao ponto de querer internar a cidade inteira, inclusive suas cercanias. Causa, em razão disso, verdadeira guerra em Itaguaí, que, para esfriar os ânimos dos revoltados, chega ao ponto de receber um reforço das forças armadas, tamanha as dimensões que tomava o problema com as ruas cheias.
Com o tempo e as pesquisas científicas, o alienista chega a conclusão que sua teoria está como que de ponta a cabeça. Pois se todos, ou a grande maioria, têm algum defeito, os insanos seriam aqueles cuja envergadura postural e moral não apresenta o menor dos deslises. E quem seria esse sujeito senão ele próprio. Termina o alienista trancando a si mesmo até a morte na Casa Verde.

Características: Justo, concentrado, trabalhador e honesto. 

Sugestão de tema filosófico: Nietzsche e a crítica ao valor dos valores morais.

Provocações:
O alienista é um personagem moralista ou imoralista?
O Alienista promove uma transvaloração como determina a filosofia de Nietzsche?
Será que Machado de Assis teve contato com as ideias de Nietzsche, já que ambos são contemporâneos?

Sugestão de material:

KUJAWSKI, Gilberto. de Melo. Duas Anotações Sobre Machado. Revista: Dicta & Contradicta. São Paulo, 2015. Disponível em: http://www.dicta.com.br/edicoes/edicao-2/duas-anotacoes-sobre-machado/ acesso: 05/08/2015.

PROENÇA, Manoel. Biografia de Machado de Assis. Em: Contos Consagrados: Coleção Prestígio. Rio de Janeiro. Ediouro, 1999.

ONNFREY, Michel. Nietzsche em HQ. São Paulo. Ed. Nova Fronteira, 2014.

MOON, Fábio; BA, Gabriel. Grandes Clássicos em Graphic Novel: O Alienista de Machado de Assis. Rio de Janeiro. Ed. Agir, 2007.

GIACOIA, Oswaldo.Nietzsche. São Paulo. Ed. Publifolha, 2009.




Audiovisual: 

O Alienista. Direção: Jorge Furtado e Guel Arraes, 1993.






Blogs e Sites:

http://tonyfernandespegasus.blogspot.com.br/2012/01/o-alienista-em-quadrinhos-um-classico.html

https://sempreumlivro.wordpress.com/2012/10/22/o-alienista-machado-de-assis-audio-livro/